terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Jardim da Verdade

Festival de Música Tv Educativa de Curitiba

Jardim da Verdade de Douglas Rezende e Luigi Carlo Fávaro - Música com tema em missão integral, rede Fale - www.fale.org.br

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

O Protestantismo Brasileiro é Sincrético

O Protestantismo Brasileiro é Sincrético

Para o sociólogo cristão Gedeon Freire de Alencar, a teologia é mais fruto de contextualização cultural do que revelação divina.

O pensamento crítico não é lá muito valorizado no meio evangélico. Pudera – em boa parte das igrejas, qualquer questionamento costuma ser visto como rebeldia. Por isso, pensadores como Gedeon Freire de Alencar nem sempre têm seu trabalho reconhecido no segmento. Graduado em filosofia, mestre em ciências sociais e diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos (ICEC), além de presbítero da Igreja Assembléia de Deus Betesda, em São Paulo, Gedeon acaba de lançar um livro polêmico.

Protestantismo tupiniquim (Arte Editorial) é uma obra que analisa criticamente posturas e comportamentos da Igreja Evangélica nacional. Inclusive, algumas evoluções, como a mudança de atitude diante de manifestações artísticas e culturais até bem pouco tempo vistas como profanas.

Segundo Gedeon, muitas coisas que já foram consideradas pecaminosas pelos crentes de outrora hoje são vistas com outros olhos justamente porque nada tinham de espirituais ou carnais. “Esse juízo de valor nem sempre é apropriado. É o caso do rádio e da TV que, de malditos, passaram a ser usados maciçamente para o evangelismo”, opina. Por isso mesmo, diz o pesquisador, é preciso analisar a teologia sob o ponto de vista contextual: “Embora os teólogos digam que teologia é uma produção divina, a verdade é que ela é uma produção humana adequada ao seu tempo”. O exemplo mais claro é a chamada teologia da prosperidade, que ganhou força nos anos 1970, acompanhando o processo de urbanização. “Ela só poderia florescer numa sociedade urbana e de consumo”, enfatiza. “É a legitimação do aburguesamento da classe média evangélica.”

No ICEC, Gedeon leciona as disciplinas metodologia científica, filosofia, cultura e Evangelho e sociologia da religião. Além do seu trabalho docente, participa de diversas entidades acadêmicas, como a Associação Brasileira de História da Religião e a Rede de Teólogos e Cientistas Sociais do Pentecostalismo na América Latina e Caribe. Atua também como consultor e palestrante, sempre abordando a inserção do Evangelho nas questões sociais brasileiras. Nesta entrevista a ECLÉSIA, ele esclarece alguns pontos de seu livro e traça um panorama do modo como a fé evangélica tem influenciado a cultura nacional – e, em escala muito maior, como tem sido afetada por ela.


ECLÉSIA – Como o senhor define esse tal protestantismo tupiniquim, tema de seu livro?
GEDEON ALENCAR – Vou recorrer à definição que faço no fim do livro, que é a de um cristianismo brasileiro. E sendo brasileiro, ele é miscigenado, sincrético, pluralista e festivo, do jeito que o Brasil é. Ou seja, o protestantismo, aqui, não é melhor nem pior do que é o Brasil – ele está impregnado de miscigenação e sincretismo.


Então, a origem do protestantismo é sincrética?
Sim. O cristianismo, originalmente, é sincrético. Ninguém inventa a roda – ou seja, não existe religião pura. As festas judaicas, quando foram estabelecidas por Moisés, obedeciam ao ciclo agrícola. Eram festas que todas as civilizações da época tinham. Os mesopotâmicos tinham aquelas festas e os egípcios também, antes, durante e depois dos hebreus. A própria estrutura e o funcionamento do Tabernáculo tinham aspectos que templos de outros deuses da época também tinham. A diferença é que, no caso dos israelitas, havia uma revelação de um Deus específico e onisciente, mas a estrutura religiosa dos judeus, e aqui estou falando como sociólogo, era igual a qualquer outra. Ou seja, a religião tanto absorve costumes de sua época quanto influencia esses costumes.


Mas os evangélicos são críticos do sincretismo religioso.
Hoje, é muito fácil, e todo mundo faz isso, criticar a questão do sincretismo quanto a cultos afro. Uma das coisas que mais bato no meu texto é que essa nossa implicância com o culto afro tem muito mais a ver com o racismo subjacente. A gente absorve o folclore americano, o folclore europeu, o folclore de outros lugares. E esse folclore, só porque é de civilização branca e poderosa, não é pecado? Ora, veja as músicas dos nossos clássicos hinários. As músicas da Reforma Protestante, por exemplo, são do folclore alemão. Por que que eu posso cantar folclore alemão e não posso cantar folclore angolano? Para se ter uma idéia, um instrumento que foi sacralizado no mundo evangélico é o piano. O piano nasceu em ambientes, digamos, não tão santos. Ele apareceu primeiro nos bordéis, já que sua música é apropriada para danças. Agora, como veio a nós pelo viés anglo-saxão branco, foi divinizado. Por que o piano é santo e o atabaque é demoníaco? Então, essa nossa implicância protestante vem muito mais por viés racista do que teológico.


Os crentes, em geral, rejeitam as religiões afro por considerarem-nas demoníacas, dada sua inspiração em espíritos ancestrais e divindades ligadas à natureza. Na sua opinião, isto é manifestação racista?
É aí que está. Hoje, fazemos uma satanização da cultura afro como um todo. A gente não procura diferenciar religião afro de cultura afro. Religião afro, como qualquer outra religião, pode ser demoníaca. O protestantismo alemão na época do nazismo não era menos satânico do que a religião afro. E o cristianismo holandês na África do Sul, que legalizava o apartheid, era menos satânico do que os cultos de matriz africana? Toda religião tem erros, ora. Mas também tem acertos e belezas – e isso acontece tanto com as religiões afro quanto com o nosso cristianismo. Veja a musicalidade dos negros, a alegria que eles têm diante da vida. Suas danças são inspiradoras. E por que que eles são obrigados a celebrar Deus à maneira dos europeus e não à sua própria? Durante séculos, tivemos essa opressão contra os negros na África, e a transpusemos para o Brasil. Repito: é mais uma questão ideológica do que teológica.


Os evangélicos são avessos também a um dos pontos básicos da fé sincrética, que é a veneração de imagens...
Quando o texto bíblico dos Dez Mandamentos fala em adoração de imagens, a gente simplifica dizendo que trata-se das imagens de escultura e logo associa com os santos católicos. Mas o que é imagem e o conceito de idolatria? O ídolo é toda e qualquer mediação que se coloca entre você e Deus. Em alguns momentos das nossas histórias denominacionais, alguns líderes e membros de determinadas igrejas adoram muito mais a sua igreja e sua tradição do que a Deus. Cria-se todo um processo idolátrico, em que o indivíduo diz que a sua igreja é melhor do que as outras. Isso sem falar dos ícones, de algumas figuras do meio evangélico que têm um patamar de ídolo. Existem líderes em nosso meio evangélico que não pisam no chão. Ninguém pode aproximar-se ou falar diretamente com eles. Há quase um processo de veneração da personalidade do líder. Nesse sentido, tal comportamento é tão pecaminoso e satânico quanto qualquer outra forma de idolatria.


É possível dizer que existem ritmos santos e ritmos profanos?
Veja bem, todos os ritmos são do mundo. Eu acho uma profunda estupidez satanizar um ritmo e divinizar outro. O louvor a Deus não passa pelo ritmo, mas pela transcendentalidade divina e pela subjetividade humana. Um axé pode ser sensual, mas um blues, ou um jazz, também podem. O samba pode ser sensual, mas uma marcha também pode. Mas o que Jesus disse à mulher samaritana? Que os verdadeiros adoradores devem adorar ao Senhor em espírito e em verdade. O que Jesus quis dizer ali é que adoração não tem a ver com uma categoria de pessoas, não tem a ver com o local e não tem a ver com dias determinados. Ou seja, adoração é transcendentalmente acima de temporalidade e do espaço. Logo, se o reduzirmos à questão do ritmo, o louvor não passa por um determinado tipo de música ou dos instrumentos musicais utilizados – passa por um ideal de vida, que é muito mais sublime do que qualquer outra coisa.


O senhor acha que a cultura nacional tem influenciado a Igreja Evangélica?
Sim, e graças a Deus por isso. Nos primórdios do protestantismo no Brasil, a Igreja Evangélica aqui instalada não tinha nada a ver com a realidade brasileira. Quando a Igreja Anglicana chegou por aqui, no século 19, tinha toda sua celebração em inglês. A Igreja Luterana, da mesma forma – era toda alemã, tinha muito mais a ver com a sua raiz étnica do que com o Brasil. Já no século 20, tivemos a Congregação Cristã do Brasil, que até a década de 1940 só fazia cultos em italiano e cantava músicas em italiano. Até a Bíblia era em italiano. Isso só começou a mudar dapois da Segunda Guerra Mundial, porque tudo o que era ligado à Itália e à Alemanha – países que o Brasil combateu no conflito – passou a ser considerado suspeito. A partir dos anos 1950, contudo, as igrejas já nascem aqui com cara brasileira.


Mas a matriz evangélica adotada no Brasil é incontestavelmente de influência americana. Logo, essa dominação americana sobre a Igreja brasileira não acabou?
Aí, entra uma outra particularidade da cultura brasileira, e os evangélicos também estão inseridos nessa cultura. O Brasil hoje é um dos países mais multiculturais do mundo. E somos extremamente abertos a novidades, principalmente aquelas oriundas de nações mais desenvolvidas do que nós. Uma das características mais básicas da cultura brasileira é a imitação. O brasileiro adora imitar o estrangeiro, sobretudo o que vem dos Estados Unidos. E o gospel moderno, tanto na literatura como na música, é uma imitação do que se faz lá. Nada mais brasileiro que imitar o estrangeiro. Podemos dizer que temos uma Igreja brasileira, mas com cara americanizada. Além da americana, há outras influências culturais sobre a Igreja brasileira? Sim. Em muitas igrejas pentecostais brasileiras, está havendo um retorno a tradições e origens judaicas, que provavelmente vai dar o que falar. Isso tem uma carga ideológica e racista de sionismo forte, num mundo onde se acirrou muito a questão da luta religiosa, influenciada pela direita americana. Eu conheço igrejas em São Paulo que têm a bandeira de Israel no altar. Em outras, o pastor instrui os fiéis a guardar o sábado e a utilizar objetos rituais como o candelabro e outros utensílios do antigo Tabernáculo hebreu. Para quê isso? Uma coisa é você abençoar a geração de Abraão; outra é abençoar a atual nação de Israel. A nação de Israel hoje é a manifestação política de uma outra época, há um longo abismo desde os tempos de Abraão. Eu acho esse sionismo evangélico só traz problemas.


Por quê?
Eu que pergunto: por que certas coisas têm que ser resgatadas e outras não? Se é para obedecer ao Levítico na literalidade, precisaríamos fazer sacrifícios de animais e excluir as mulheres da liturgia. E é claro que não devemos fazer isso. Essa adaptação ao judaísmo não é conveniente para os crentes, pois como é que ficaria então nossa relação com o sacrifício de Jesus? Isso causa um problema teológico seríssimo.


E a Igreja brasileira tem influenciado a cultura nacional?
Sim e não. Um exemplo claro foi sua postura diante do golpe militar de 1964. No início da ditadura militar, todas as igrejas evangélicas, como batistas e presbiterianas, mandaram telegramas para o general Castelo Branco, um dos líderes do movimento e que se tornou presidente da República, parabenizando-o pelo golpe. Eles estavam certos de que aquilo era a direção de Deus, mas anos depois a gente viu no que deu. Com o presidente Collor e, mais tarde, com o próprio Lula, foi a mesma coisa. Qualquer manifestação contra ou a favor é uma manifestação secular, social. É uma inserção da Igreja nessa sociedade, ao mesmo tempo que pode ser uma manifestação espiritual. Há 50 anos atrás a Igreja satanizava o futebol; hoje, não. O futebol deixou de ser pecaminoso ou a igreja melhorou? Nem uma coisa nem outra. Futebol não deixou de ser futebol e igreja não deixou de ser igreja. No decorrer dos anos todos mudam, pois há uma adequação natural. Não tem como ser diferente.


Essa adequação não é prejudicial?
Para não tipificar de forma muito pejorativa a Igreja, vamos relacioná-la com o PT. O PT de 20 anos atrás era aquele grupinho coeso, de uma honestidade a toda a prova. Pobre, pequeno, com inimigos mil ao redor – essa é uma tendência natural do agrupamento social minoritário. Num grupo pequeno, seus inimigos são sempre exteriores. Na medida em que esse agrupamento vai crescendo, seus inimigos mudam. E aí começa aquela história de fogo amigo. Os maiores inimigos tornam-se os internos. Voltando à questão da Igreja, à medida que ela vai crescendo – e ela cresceu muitíssimo nas últimas décadas –, vai perdendo seu poder de influência.


O natural não seria o contrário?
Acontece que ela ficou quantitativamente grande, mas tornou-se qualitativamente heterodoxa. É uma Igreja que não influencia mais a sociedade, porque ficou menos coesa.

Hoje assistimos a uma explosão do chamado mercado gospel. A produção cultural evangélica tem influenciado “o mundo”, para usar uma expressão bem comum entre os crentes?
O problema da nossa produção cultural é que a gente entra no mercado não para alterar alguma coisa, mas seguindo os padrões vigentes de produção, de consumo, de estética – e, dizem as más línguas, de falcatrua. Isso é mais evidente em relação à chamada indústria de música gospel. Da mesma forma, com a chamada indústria evangélica de literatura. Há até indústria de testemunhos! Há algum tempo, os evangélicos achavam errado estar presente no mundo. Só que o grande problema não é a gente estar presente lá no mundo, mas seguir o mesmo padrão dominante. Transportando isso para a questão do comportamento social, não existe mais aquele perfil evangélico do indivíduo que não bebe, não fuma, não é desonesto e não faz coisas erradas. O evangélico de hoje não tem mais aquele carimbo de santidade na testa. Algumas vezes, faz coisas até piores do que os outros.


E o que dizer das qualidade da produção cultural evangélica?
Se a gente pegar algumas canções de louvor e adoração que são cantadas hoje, veremos que são muito rasas. Os caras escrevem umas quatro linhas que não dizem nada e ficam repetindo essa baboseira por meia hora. Isso é desonesto. Eu já ouvi músicas da nova safra gospel que considero um lixo. Não têm qualidade musical, não têm conteúdo, não têm letra, não têm arranjo, não têm estilo. É uma porcaria, com todas as letras. Também tenho lido livros evangélicos de ponta a ponta e no final não consigo entender o tema daquilo. O autor não diz nada e você fica com a sensação de que gastou dinheiro e não aprendeu nada. Ou então, no culto, o pregador fica 40 minutos dizendo absolutamente nada. Ou seja, uma mensagem vazia é tão desonesta qanto um CD ou um livro que não dizem nada. E ainda tem aquela coisa da fabricação de astros da música, de ídolos da literatura, de estrelas do púlpito. A gente vê isso nos livros, nos CDs, nos cultos, nos congressos... .


A teologia também é uma produção cultural?
Apesar dos teólogos sempre dizerem que teologia é uma revelação divina, a verdade é que ela é uma produção humana adequada ao seu tempo. Do ponto de vista sociológico, teologia é a legalização do estado social. Nesse sentido, a teologia da prosperidade jamais poderia fazer sucessso na década de 1920, quando ocorreu uma grande crise econômica do mundo. Não havia ambiente social nem cultural para isso. A teologia da prosperidade nasce junto com o neoliberalismo econômico. Quer dizer, ela junta a fome com a vontade de comer. Ou seja, as teologias são sempre produzidas de acordo com a época. A teologia da prosperidade nasce num processo de urbanização fundamental. Essa teologia não poderia ter nascido numa sociedade rural. Ela tinha que aparecer num mundo urbanizado com o de hoje, com demandas de consumo inimagináveis. A teologia da prosperidade legaliza essa classe média evangélica que se aburguesou. E isso não é um fenômeno exclusivamente contemporâneo. A teologia calvinista do século 17 surgiu como forma de legalização da burguesia ascendente da época. E assim por diante.


Então a teologia desses grupos é meramente utilitária?
Tanto quanto de outros grupos. O segmento neopentecostal tem uma ética relativista e uma estética muito consumista. Isso também tem uma teologia, conforme a tese que o sociólogo Ricardo Mariano elaborou sobre o neopentecostalismo, que relativizou a ética e se aproveitou da estética.


Onde mais se observam contextualizações sociais ou políticas na teologia protestante?
Para não ficarmos somente na teologia da prosperidade, veja o escatologismo exagerado do pentecostalismo nas primeiras décadas do século passado. Há uma razão histórica para explicar tamanha ênfase num eventual fim dos tempos. O pentecostalismo nasce na passagem do século 19 para o 20. Toda passagem de século tem uma efervescência escatológica muito forte. E logo nos anos seguintes, veio a Primeira Guerra Mundial, que trouxe uma mudança fundamental no processo bélico, que foi a inclusão dos aviões – uma tecnologia nova – em combates. Num panorama de destruição daqueles, a ênfase escatológica foi tão grande que os crentes pensavam que Jesus estava às portas, prestes a voltar a qualquer momento. Depois, veio a Segunda Guerra, trazendo mais destruição e ainda por cima a figura de Hitler, considerado por muitos como o próprio anticristo. Logo, tudo apontava para uma volta iminente de Cristo, e a teologia produzida na época refletia isso.


Falando em termos sociológicos, esse escatologismo levou os evangélicos à alienação?
Exatamente. O grande mal que essa teologia produziu foi uma alienação absoluta da realidade. Como as pessoas pensavam que Jesus já estava voltando, achavam que não deveriam mais ter nada a ver com este mundo. A teologia pentecostal, nos seus primeiros anos, e mesmo até hoje em alguns setores, levou os evangélicos a achar que só a vida espiritual deveria ser cuidada – e o mundo que se explodisse. O fato de se pensar somente em morar no céu produziu uma profunda alienação. Olha, eu tenho muitas reservas contra os dogmáticos de plantão, os donos da verdade teológica, que dizem que isso ou aquilo é pecado e está errado. Pode ser que não seja. Como eu não sou teólogo ou pastor, posso me dar ao luxo de relativizar. Como sociólogo, não tenho essa preocupação dogmática. E acho que os crentes em geral também não devem ter.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Um Brasileiro



Documentário sobre um dos maiores Brasileiros intelectuais de nossos tempos,
o sociólogo Florestam Fernandes. Vale a pena ver.


...Bem aventurados os que tem fome e sede de justiça...


Parte poema, parte vida aflita.

Cansado da discriminação que sofria, com seus pés envoltos por um
chinelo cinza manchado de sangue, dormiu, e dormindo sonhou.
Nesta viagem para longe dos sentidos físicos, do conflito, da falta de
dinheiro e da sorte, estava como em um museu de sua vida. Uma música
que lembrava uma melodia de amor o acalmava. Como em uma linha do
tempo desconexa, mas com sentido, tudo corria a sua volta, sem demora
ao mesmo tempo. Viu o Sol, sentiu a luz, tocou o verde de raros
momentos alegres, conheceu sua mãe. Teve simpatia ao vê-la. Acordou
com fome sentindo o cheiro de lasanha que vinha da rua. Que pecados
cometera?

Douglas Rezende

sábado, 11 de outubro de 2008

Sobre a crise do capitalismo atual - Um texto do teólogo Richard Shaull - Logo após o atentado de 11 de setembro de 2001 - suas causas:

A arrogância da vanglória militar, econômica e tecnológica dos Estados Unidos e sua crise. A necessidade de uma nova forma de comuidade cristã que não compartilhe dos ideais triunfalistas, mas crie condições de plenitude de vida para dentro e para fora, superando a exploração e a opressão no mundo.

Martim Luther King
'Eu tenho um sonho...Livres a final, livres afinal, obrigado Deus Todo Poderoso, nós somos livres afinal..."




Assim disse Iahveh:
Que o sábio não se glorie de sua sabedoria,
que o valente não se glorie de sua valentia,
que o rico não se glorie de sua riqueza!
Mas aquele que quer gloriar-se glorie-se disso:
Que ele tenha inteligência e me conheça,
por que eu sou Iahveh que pratico o amor,
o direito e a justiça na terra.
Por que é disto que eu gosto,
oráculo de Iahveh!

Jeremias 9: 22-23


O teólogo norte americano Richard Shaull, logo após o atentado as torres gêmeas em 11 de setembro de 2001 escreve:

O Profeta Jeremias viveu durante uma época na qual o povo de Israel - convencido durante séculos de que Deus os havia escolhido para uma grande missão no mundo - sofria uma derrota irreversível. E eis o que diz Jeremias sobre a ação de Deus naqueles eventos:

Temos nos vangloriado de nossa sapiência(tecnologia e cultura) - Confiamos na superioridade de nosso domínio na cultura ocidental, nossa pátria olha a distância para outros. Não hesitamos em impor nossa cultura a outros povos, ignorando o que sua próprias culturas podem dizer para nós.

Temos nos vangloriado de nosso poder - Os Estados Unidos têm exercido o seu poder político e militar sobre países pobres e fracos - frequentemente para seu próprio benefício em detrimento de outros. Temos estabelecido hegemonia no mundo, atuando em questões que afetam todos os povos, rejeitando tratados internacionais, como o de Kyoto, incrivelmente discordamos das nações unidas nos posicionando a favor de armas biológicas. E por que não? por que somos a nação mais poderosa do mundo.

Temos nos vangloriado de nossas riquezas - No uso de sua abundância e poder material, os Estados Unidos criaram uma ordem econômica mundial que produz opulência justamente para uma fração do Povo de Deus. Desta forma 20% da população mundial possuem 8% dos bens materiais do planeta. Dito de outro modo, 20% da população mundial(nós basicamente), vivem em segurança, enquanto 80% vivem em situação de risco. Enquanto centenas de milhões de mulheres, homens e crianças vêem aumentar sua pobreza e marginalidae a cada ano, nós continuamos a desenvolver crescentes e spfisticadas tecnologias para aumentar nossa segurança e economia em escala mundial...


O texto possui poderosa mensagem para nós e para nossa pátria (EUA). Declara que a vida não pode ser encontrada no vangloreio de nossa sabedoria, poder ou riquezas, mas a submissão à vontade de Deus, cujo infalível amor está promovendo justiça e integridade no mundo...como cristãos e como nação devemos diregir nossa sabedoria, nosso poder e nossa riqueza para o cultivo de um amor infalível, para a justiça e a integridade em nossa sociedade global.
Se esta é uma indicação do que Deus está fazendo, crises como a de 11 de setembro(e agora a econômica), podemse transformar em momentos de revelação, oferecendo-nos a possibilidade de vislumbrar e participar da criação de um novo futuro - que não percebemos antes.
...Nós, na América do Norte, temos nos contentado em desenvolver em nosso benefício e até os seus limites um sistema econômico que produz riqueza para nós – que somos uma mui pequena proporção dos povos criados por Deus – e que desenvolve as mais avançadas tecnologias para nos enriquecer ainda mais a nós mesmos e aumentar o nosso poder. Temos feito muito para pouco transformar esta ordem e servir às mais urgentes necessidades de centenas de milhões de povos pobres e excluídos.

Temos nos permitido apoiar uma política externa que pouco tem feito para contrapor a agressão dos poderosos contra suas vítimas. Muito freqüentemente usamos também nosso poderio militar e econômico para sustentar aqueles que exploram o seu povo e solapam os esforços dos que lutam em prol da justiça.
Precisamos reconhecer que nossos tremendos desenvolvimentos tecnológicos nos trouxeram a um ponto tal em que uns poucos homens, prontos a morrer por sua causa, podem fazer com que nossa mais recente tecnologia se volte contra si mesma. O potencial que esta possui para a destruição é quase ilimitado. Como uma nação e como um povo, somos agora vulneráveis. Todo o nosso poderio militar e nosso poder econômico não podem mudar isto.

Podemos responder dedicando ainda mais de nossas energias e de nossa riqueza àquelas coisas que nos falharam e que continuarão a fazê-lo. Podemos, perante nossa vulnerabilidade e insegurança, dar lugar ao desespero sem qualquer esperança para o futuro. Ou, podemos ousar crer que nisto, e por meio disto tudo, Deus está presente, oferecendo-nos a possibilidade de criar um novo futuro.

Tomar parte nisso exige uma conversão radical.

Uma decisão de dedicar nossas energias – com uma paixão comparável à dos bombardeadores suicidas – à descoberta de como usar nossa riqueza material, nossa inteligência e nossos avanços tecnológicos para responder ao desesperado sofrimento dos povos dominados e abandonados. Caso contrário, podemos estar certos de que o crescente número dos que não vêem esperança de mudança atacarão enraivecidos, nova e freqüentemente, os que têm a riqueza e o poder...

Vejo nos Estados Unidos, tanto nos seus líderes com na maioria dos cidadãos, a continuidade do orgulho de sua sabedoria, sua força, suas riquezas. E seguir por esta trilha, creio, apenas prolongará a desintegração social - e nos levará a uma contínua espiral de violência.

Para que isto não aconteça, acredito que seria necessária uma nova forma de comunidade cristã, na qual se cultive e se viva sob o poder do Espírito; e onde homens e mulheres se comprometam a conservar viva a esperança e a tornar visíveis as possibilidades de transformação da sociedade. Por sua vida comunal interior, e seu trabalho no mundo, esses novos cristãos darão testemunho de sua visão de futuro, levando a nação, finalmente, a criar condições de plenitude de vida para dentro e para fora, superando a exploração e a opressão mo mundo.

Richard Shaull
Fevereiro de 2002


Que o Poder da Verdade vença a verdade do poder, sempre.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

E a Bolívia?

E a Bolívia?
Estejamos orando para uma busca de entendimento por parte dos cristãos em relação ao que acontece e aconteceu na história da América Latina e em especial na Bolívia.

Muitos estavam com medo de uma possível violência dos governistas, mas os antigovernistas é que estão provocando atentados terroristas, matando camponeses, tentando um golpe de Estado contra a um presidente eleito e confirmado em um referendo, isto por não aceitá-lo na presidência. Quem deveria decidir se o governo está bom ou não é o próprio povo, a maioria da população, que parece já ter feito isto duas vezes, independente se gostemos ou não, o desejo popular deve ser respeitado. Quando os governos que exploravam os pobres para financiar a riqueza dos ricos estavam no poder, ficaram até a próxima eleição, não deveria ser assim também agora, quando os neoliberais estão de fora?

Oro muito para os irmãos bolivianos, peço a Deus que possam realmente ser sal e luz em um momento tão delicado para este país... devemos pedir muita orientação a nosso Pai.

Se os evangélicos na Bolívia se mostrarem a favor de um golpe de Estado, ou se ficarem passivos "apolíticos" (isto não existe) frente ao que está ocorrendo, correm o risco de perder respeito frente a maioria da população que por duas vezes elegeu seu presidente.

Mas antes de tudo, que seja feita a vontade de Deus, que Ele esteja no controle, que seu Reino, sua Justiça e sua presença estejam com nossos irmãos bolivianos.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Religião e política não se misturam?


Política em uma democracia é a prática do governo do povo, para o povo e pelo povo. Politicagem, em uma "democracia", é a prática do governo de alguns em benefício de poucos, com dinheiro de todos.

Não se mistura fé com politicagem, compra de votos, curral eleitoral, conchavos, desvio de dinheiro destinado à educação, saúde, segurança, com o neoliberalismo concentrador de renda... isto é para ser denunciado como obra da trevas... fazemos isso? Expulsamos os demônios que agem nas pessoas simples. Mas temos expulsado os demônios que agem nos governos e governantes?

Temos afirmado o reino de Deus em todos os sentidos? Temos sido políticos afirmando os valores do Reino de Deus frente aos anti-valores das trevas da politicagem?

Misturamos religião e politicagem quando sabemos de tantas coisas erradas e nos omitimos. Misturamos religião e politicagem pela pior forma, passivamente concordando com o que está errado, com os corruptos e corruptores. Quando calamos, consentimos. As pessoas de fora da igreja muitas vezes não nos vêem com sal e luz, apenas como os que se omitem. Como os lobos em pele de cordeiro, aproveitando da ingenuidade do povo evangélico para benefício próprio ou inseridos na politicagem.

Agora, a postura dos cristãos não deveria ser de politicamente conscientes, verdadeiros políticos e não politiqueiros? ou os crentes no momento em que votam deixam de ser crentes? No momento em que apertamos os botões da urna eletrônica somos políticos e na igreja somos santos "apolíticos"?

Se crentes não votassem, não usufruissem de serviços públicos, não pagassem impostos, não vivessem em uma democracia, aí poderíamos defender uma postura "apolítica", ou seja, não teríamos nada a dizer porque não participaríamos, não usufruiríamos dos serviços do Estado. Mas não é isso que acontece em nenhum lugar do planeta, nem seria interessante que acontecesse. Somos chamados a servir no mundo, não fora dele.

Temos responsabilidade com a justiça social, e esta passa também pela prefeitura, pelo governo do Estado e do país. Quando os bons se omitem, os maus tomam conta, já se diz há muito tempo.

Muitas pessoas defendem o apolítico como o correto para os evangélicos. Aí ocorrem duas coisas -- primeiro é que Mamom toma conta pela nossa negligência, segundo, como já afirmei, "quem cala consente".

O que é ser um verdadeiro cristão num país campeão mundial em injustiças sociais, do trabalho escravo, da prostituição infantil, do salário mínimo de fome, da fome, do racismo e da juventude sem escola? O que temos a dizer? O que a Bíblia tem a nos ensinar? O que dizer da história de José, Moisés, os livros de Isaias, Amós, Tiago, a postura de João Batista e de Jesus frente aos poderes econômicos e poderosos? O que dizer de Wilbeforce e de Martin Luther King em história recente?

Que o Poder da Verdade nos ajude a vencer a verdade do poder, sempre.